sábado, outubro 06, 2007

Rumo ao céu



Lá está você voando em pleno céu azul de brigadeiro a bordo de um avião que te asseguram é a coisa mais segura deste mundo. Afirmam mesmo que é mais fácil morrer no banheiro de um escorregão depois do banho do que por conta de uma queda de avião.

Mesmo assim você relembra dos recentes acidentes aéreos, a demora no embarque e tudo mais que é martelado de maneira incessante pela mídia alertando as mazelas do sistema viário brasileiro. Logo, você está ligeiramente desconfortável e um tanto ansioso que a viagem logo termine.

Já tendo à idéia em mente a possibilidade de um acidente aéreo você busca desfrutar de algum mínimo conforto antes do desastre. Deste modo, neste cenário ficto, vamos colocar você numa confortável primeira classe onde sem rodeios e culpa n alma desfruta de todas as benesses possíveis.

De toda forma lá está você fazendo apelos ao seu lado irracional já que a pura e fria lógica não lhe traz conforto naquela hora. Assim, olha ao seu redor e vê crianças que lhe trazem um forte apelo emocional de que seria sumamente injusto morrerem de maneira tão trágica. - Deus teria que ser um grande sacana para deixar ocorrer um acidente aqui, pensa você com seus botões.

Tudo prossegue bem, você até dá uma paquerada fortuita numa comissária de bordo que para seu espanto retribui os galanteios com olhares não menos libidinosos e deixa-lhe um papelzinho com o telefone dela. Realmente agora posso afirmar que atingiu as mais altas nuvens.

De repente do nada o avião dá vários solavancos que faz aquela linda comissária de bordo quicar de encontro ao teto e novamente ao chão como fosse uma bola de ping-pong até ficar desacordada e banhada em seu próprio sangue .

Malas caiem dos bagageiros espalhadas pelo corredor, máscaras surgem penduradas como enfeites de Natal bem à sua frente, pessoas berrando para todo canto, avisos de apertem o cinto e o tudo vai indo de mal a pior.

Você , o grande felizardo da primeira classe, olha pela janela e percebe o que é mais do que óbvio: o avião entrou em queda livre e chão aproxima-se a uma velocidade vertiginosa. Quando mal pára para pensar no que está acontecendo ouve um enorme estrondo e chamas indo em sua direção. - Está morto.

Sim é um bocado trágico não resta dúvida, mas tudo o que descrevi é um perfeita analogia do que é a vida humana, isto é, você pode até fantasiar que seja imortal ou que a morte está bem longe de ocorrer só que a verdade nua e crua é que nasce condenado a morte e em sua direção caminha passo-a-passo.

O que você fará ou melhor dizendo a forma como irá reagir naqueles nanosegundos de tempo quando tomar a percepção de que a morte é certa vai dizer mais ao seu respeito do que tudo mais possa ter realizado durante toda sua existência.

Como aqueles passageiros do exemplo que mencionei poderá alternativamente gritar feito um doido, chorará talvez, quiça pedirá perdão por suas faltas a Deus ou coisa que o valha. A grande maioria com certeza vai agir inspirado no mais puro desespero e nada mais, porém, não todos.

Para mim especial mesmo será aquela pessoa que com papelzinho do telefone precioso da comissária de bordo em seu bolso lamentará o fato de não ter levado adiante o encontro ou até os que a despeito da tragédia estarão absortos em sua curiosidade com o que virá acontecer.

Faça o que fizer o resultado não mudará, vai morrer de toda maneira. Do mesmo modo pode levar sua vida inteira lastimando seu destino e fazer tudo um mar de lágrimas, dedicar-se abnegadamente ao cultivo de uma crença religioso e disto fazer o Norte de sua bússula, ir de cabeça em todos vícios mais mundanos e por aí vai, porém, não vai mudar em nada o básico do enredo que é o singelo fato : este avião vai cair.......
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