domingo, setembro 30, 2007

A condição humana

"Homo sum; humani nil a me alienum puto" assim dizia lá no distante século I a.C. o dramaturgo e poeta romano Publius Terentius Afer que vertido em nosso vernáculo pode ser livremente adaptado e lido como : ´´ Sou humano; nada do que é humano é a mim estranho ´´

Deste modo situa que o mais cruel dos assassinos, o mais prepotentes dos tiranos e a mais vil das pessoas que exista neste mundo compartilha algo em comum com o resto da Humanidade composta por ´´cidadãos de bem´´ tementes a Deus que são cônscios de seus deveres cívicos como mantenedores da ordem pública, zelosos contribuintes do Erário bem como acima de tudo respeitadores da moral e bons costumes.

Dá para fazer altas divagações sobre as razões ou circunstancias que fazem alguns pularem aquela linha invisível que por força de convenções sociais é levantado como uma fronteira imaginária entre o Bem e o Mal,isto é, entre o que como conduta figura na condição de socialmente aceitável e em outro extremo situa-se como nefando mesmo até de ser desejado no silêncio do pensamento.

De toda forma não é sobre os laços que nos unem , as semelhanças intrínsicas , sobre o que quero falar.Desejo sim divagar sobre as situações onde para algumas raras pessoas as amarras que ligam a todos nós a Humanidade aparentemente foram quebradas, ousaria dizer até que nunca existiram. Vamos especular...

Peço que imaginemos um mundo onde todos sejam surdos e esta situação prolonga-se desde tempos imemoriais desde que a Humanidade existe, fazendo assim que a própria idéia conceitual de som seja algo totalmente alheio a experiência sensível e intelectual de todos. Porém, por algum acaso bizarro do destino e motivo além de toda compreensão, o fato é que entre tantos você é o único portador da singular condição de ´ouvinte ´.

Entre todos você é o único em todo planeta com o poder de se encantar com os sons da Natureza que também lhe ofertam experiências singulares do mais puro pânico quando confrontado com ruídos ensurdecedores .

Não há como compartilhar suas vivências com os demais ao seu redor e nem surge mesmo de meios de faze-lo já que tudo que vive é algo além do conhecimento do resto de toda a Humanidade que aqui apenas conhece um mundo alheio de som como base fundamental de sua realidade.

Ai de ti, solitário ouvinte neste mundo de surdos. Longe de ser aquela situação descrita em dito popular onde ´´ em terra de cego quem tem um olho é rei´´ vemos um sujeito entregue a um destino miserável que talvez só a morte possa servi-lhe de consolo na medida em que vive em um mundo alheio a todos os demais !

Talvez, numa tentativa vã e tola parta para uma negação pura e simples de que possa ouvir. Quem sabe por imitação tente agir como surdo fosse para que aos olhos dos outros possa ser visto como uma pessoa ´´normal´´.

Ocorre que por mais esforçada seja sua tentativa de fingir ser ´normal´ passará a a ter uma existência de pura ficção, meio que alienado de si mesmo. Ao final o pobre coitado estará preso numa situação pior que antes....

Outros correrão pelo caminho oposto partindo para tanto quanto possível divulgar aquele mistério insondável do ´som´ do qual só ele como ouvinte é capaz de observar e ouso dizer que muitos mesmo sem ouvir poderão dar-lhe o devido crédito num ato que ao final se revestirá na forma de fé ( ou credulidade pura ) na verdade das palavras ditas por aquele sujeito.
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